sexta-feira, março 06, 2009

Realizações dopadas



Ouvi hoje falar, nos Sinais da TSF, de uma recente investigação alemã que revela que existe uma grande percentagem de pessoas que recorre ao doping para conseguir realizar os objectivos profissionais e aguentar a pressão.
Dizem eles que a exigência das jornadas de trabalho e a necessidade de superação constante levam as pessoas a renderem-se a aditivos que ajudem a superar as dificuldades. Os estimulantes usados têm normalmente efeitos secundários e provocam habituação e dependência.

Devo confessar que isto me provoca uma enorma confusão e me põe a pensar...

Não é para mim, de todo, uma realidade nova ou distante.
Faz-me confusão desde sempre... os colegas de curso que tomam aditivos para aumentar o rendimento do estudo, o colega que para conseguir entregar a tese mete uns suplementos para dentro, a amiga que para aguentar a última fase de estudo para o exame da especialidade se socorre dos anti-depressivos...
Não os julgo, não julgo ninguém, mas de cada vez me volto a questionar sobre o sentido disto. Até que ponto os fins justificam os meios? O que é que estamos dispostos a fazer para atingir os nossos objectivos? Onde é que está o verdadeiro valor, é no que se consegue ou na forma como se consegue?

São as questões que eu coloco e sinto que isto não é radicalizável, e pode dar muito por onde discutir perspectivas. Mas no fundo acho isto tudo muito estranho, acho que o meu lado purista não me deixa aceitar e relativizar questões destas... e ele lá deve ter as suas razões.

quinta-feira, maio 15, 2008

Anonimato livre

A notícia de hoje sobre um grupo de alunos que foram punidos numa escola secundária por terem feito comentários pejurativos aos professores na internet fez-me pensar mais uma vez nesta questão.

Parece que é comum sentirmos uma certa liberdade acrescida quando estamos de alguma forma um pouco mais no anonimato. Fazemos coisas que de outra forma não faríamos ou simplesmente tentamos ser o que não somos. Acho que isto não é novidade, mas gostava imenso de perceber porque é que assim é e o que significa.
Nesta situação, os alunos fazem comentários na internet que não fariam ao vivo. Porquê? Qual é a diferença? Na internet são menos eles próprios? Parece-me que não, e a direcção da escola entendeu o mesmo, tanto que os puniu. E é interessante estarem logo os puristas a reclamarem pela liberdade de expressão. Será que se os alunos tivessem dito as mesmas coisas "ao vivo" aos professores estes puristas viriam com o mesmo discurso? Acredito bem que não senão já estariam a confundir liberdade de expressão com falta de respeito! E o que interessa é que isso se mantém quer seja ao vivo ou na internet.
Também já vi situação parecida mas no meio universitário. Usando o Hi5 com comentários e imagens insultuosas para o professor. Se na situação do secundário ainda posso compreender que os alunos, devido à idade, não tenham a firmeza suficiente para fazer os comentários directamente, na universidade isso já não se aplica. São adultos e podiam muito bem chegar à frente do professor e dizer-lhe o que pensavam sem temerem. Mas não, mantêm-se refugiados atrás do ecrã, continuando eu sem perceber em que é que isso os inibe do acto.

Mas a tendência parece que é mesmo inata. Pois ainda no último JOTI (Jamboree On The Internet) observei frequentemente escuteiros desde a mais tenra idade que enquanto falavam no IRC com outros escuteiros desconhecidos, de outras partes do país ou do mundo, falseavam compulsivamente os seus dados fosse a idade o nome ou outros. E isto sem necessidade nenhuma porque o objectivo da actividade é principalmente trocar experiências verdadeiras e estabelecer contactos verdadeiros. Se eu não o faço que confiança é que posso ter que o outro o esteja a fazer? O que é que eu posso ganhar de uma conversa onde, pela minha atitude, sei que tudo pode ser falso?

E há mais exemplos disto. Como aquilo que somos capazes de fazer quando andamos mascarados no carnaval. Ou estudos que já foram feitos sobre a alteração de comportamento atrás do volante... entre outros.

Será tudo fruto do medo? Será insatisfação com o que somos? Será necessidade de protecção extra?

Enfim... curiosidade.

quarta-feira, abril 02, 2008

Maravilhas contemporâneas...

Queria deixar aqui o meu agradecimento pronto aos maravilhosos eleitores que deram a fantástica maioria absoluta a este governo. Os factos a provarem que estão a tornar a nossa sociedade melhor não param de surgir.

Esta notícia particular da inspecção da ASAE a um centro de dia não me conseguiu deixar indiferente. Como é que é possível fazer-se legitimamente mal? estragar o trabalho dos outros? Tudo em nome da segurança. Mas qual segurança? a imposta por eles? Ainda bem que se faz tanta coisa em nome da liberdade!

Não posso ver estas coisas... como é que a comida não cumprir normas estupidamente subjectivas é proíbido e deitá-la fora simplesmente, quando há pessoas a precisar dela, é permitido?

http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=83792

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Publicidade enganosa?

Sempre que vejo a campanha televisiva que tem andado aí a propósito da integração dos deficientes fico um bocado incomodado. É que aquelas palavras não me soam bem.... "Integrar é tratar de forma igual". Quanto muito isto pode ser uniformizar, agora integrar já me deixa mais dúvidas.
Estava a fazer-me de tal modo comichões que quando me dei de caras com um caso claro de tratamento desigual com vista à integração resolvi mesmo referir isto aqui (e por isso surge a imagem). Será que devemos acabar com os lugares de estacionamento reservados a deficientes para os integrar melhor?
São questões como esta que me levam a classificar aquela campanha como publicidade enganosa.

Entretanto encontrei alguém que já se tinha pronunciado sobre isto e como não gosto de repetir deixo aqui a ligação porque diz exactamente o que eu penso.

O príncipio mais lógico e que mais me surje a este respeito é o da justiça.
A justiça, jogando com a palavra, implica que se ajuste à medida de cada um o tratamento que lhe é dado. A que nos referimos quando falamos de uma roupa que me está justa? É uma roupa que se adequa exactamente às minhas medidas. E se as minhas medidas são diferentes das tuas, a roupa que me está justa a mim ou te fica apertada ou te fica larga!
Logo a justiça é incompatível com a igualdade, pura e dura, e também incompatível com o tratamento igual quando as necessidades são diferentes.

Por isso isto é uma questão de justiça, e se queremos dar oportunidades iguais a quem tem necessidades diferentes não podemos tratar de forma igual.

Acho que o caso real mais próximo que conheço é o de um rapaz que entrou para o nosso grupo de caminheiros há um ano e pouco e que tem dificuldades de locomoção. Toda a gente sabe que os escuteiros são rapazinhos/rapariguinhas que têm por hábito andar muito a pé. Ora, este novo elemento não tem facilidade nenhuma nisso, e para ser integrado foram necessárias duas coisas: a primeira dar-lhe um tratamento especial para que ele possa acompanhar o grupo nas caminhadas, a segunda o grupo adaptar a sua vida e as suas caminhadas de modo a tornar possível a sua participação. Deveria o grupo tê-lo tratado de forma igual? Rapidamente ele não só não se integrava como teria que desaparecer do mapa por não ter hipótese de acompanhar os outros!

É claro que alguns poderão pensar: os escuteiros não são apropriados para esse rapaz... mas quem pensar isto é só porque não sabe que há mais no escutismo do que andar a pé...
E já agora juntando estes dois temas (escuteiros e deficientes) cito o fundador do escutismo: "Graças ao escutismo há inúmeros rapazes aleijados, surdos-mudos e cegos que adquirem agora mais saúde, felicidade e esperança do que jamais tiveram. Na sua maioria são incapazes de fazer todas as provas normais do escuta, e são-lhes facultadas provas especiais ou de alternativa. A coisa mais admirável em tais rapazes é a sua boa disposição e o seu anseio de realizar no escutismo tanto quanto lhes seja possível fazer. De provas e tratamentos especiais não desejam mais do que o absolutamente necessário. O escutismo auxilia-os associando-os a uma fraternidade à escala mundial, dando-lhes alguma coisa a fazer e a esperar, e facultando-lhes a ocasião de provarem a si mesmos, e aos outros, que são capazes de fazer coisas - e até coisas difíceis - só por si." (Baden Powell, Aids to Scouts Mastership, 1944)

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Esquerda ou Direita?


Nunca tinha pensado nisto desta forma mas duas coisas que li ultimamente fizeram-me ver que realmente tem algum sentido. A questão é: porque é que os partidos hão-de ser de esquerda ou direita? Que eu saiba não existe nenhum partido que se identifique como neutro. Nem tão pouco existe algum partido que lá dentro tenha variedade de pessoas que se identifiquem com as diversas ideologias existentes.
Ora, o que me ocorre é: se os partidos pretendem assumir posição para governar a sociedade e se a sociedade é ideologicamente plural, não devia cada partido em si ser também plural? Que estabildiade ou equilibrio pode haver quando se trabalha no sentido de orientar uma sociedade plural usando uma ideologia específica? Bem sei que a ideia da representatividade nas assembleias é exactamente combater este problema, mas também é certo que não dá resultado porque acaba por haver sempre um domínio de um dos lados. E este domínio vai alternando e a sociedade vai andando aos Ss.
Não posso garantir que funcionaria, mas posso perguntar-me se não seria melhor os partidos serem mistos e identificarem-se não pelas ideologias mas por objectivos e vontades concretas. É que acabamos por concluir que as ideologias não reflectem grande coisa que interesse ao governo concreto.

Voltando às coisas que li. Uma delas foi o FAQ do partido MMS que está a tentar nascer onde dizem: "Para o MMS esses são conceitos que já não se aplicam a uma sociedade contemporânea; estão ultrapassados. O MMS não se revê nessa lateralidade. Essa fragmentação não é saudável ao desenvolvimento social e económico de Portugal.A gestão da convivência dos diversos interesses que uma sociedade abarca, constitui hoje um dos principais desafios à governação moderna. A lateralidade introduz desequilíbrios. " Fico na expectativa da veracidade desta resposta.
A outra foi um agradável artigo no Jornal de Negócios intitulado 'Politica ou Gestão', onde, entre outras coisas interessantes o autor diz: "A origem dos partidos políticos é muito nobre. É a forma escolhida para a representação proporcional da diversidade das correntes ideológicas originadas na interpretação do que deveria ser a melhor organização da sociedade. No entanto, a forma fechada como os partidos defendem a sua corrente ideológica e o desafio constante, fomentado no seu seio, à sua hegemonia e luta pelo poder fazem com que a defesa dos seus princípios crie mais divisão e guerra do que produção de conhecimento, experiência e criação de valor para o progresso das sociedades."