quinta-feira, dezembro 27, 2007

Publicidade enganosa?

Sempre que vejo a campanha televisiva que tem andado aí a propósito da integração dos deficientes fico um bocado incomodado. É que aquelas palavras não me soam bem.... "Integrar é tratar de forma igual". Quanto muito isto pode ser uniformizar, agora integrar já me deixa mais dúvidas.
Estava a fazer-me de tal modo comichões que quando me dei de caras com um caso claro de tratamento desigual com vista à integração resolvi mesmo referir isto aqui (e por isso surge a imagem). Será que devemos acabar com os lugares de estacionamento reservados a deficientes para os integrar melhor?
São questões como esta que me levam a classificar aquela campanha como publicidade enganosa.

Entretanto encontrei alguém que já se tinha pronunciado sobre isto e como não gosto de repetir deixo aqui a ligação porque diz exactamente o que eu penso.

O príncipio mais lógico e que mais me surje a este respeito é o da justiça.
A justiça, jogando com a palavra, implica que se ajuste à medida de cada um o tratamento que lhe é dado. A que nos referimos quando falamos de uma roupa que me está justa? É uma roupa que se adequa exactamente às minhas medidas. E se as minhas medidas são diferentes das tuas, a roupa que me está justa a mim ou te fica apertada ou te fica larga!
Logo a justiça é incompatível com a igualdade, pura e dura, e também incompatível com o tratamento igual quando as necessidades são diferentes.

Por isso isto é uma questão de justiça, e se queremos dar oportunidades iguais a quem tem necessidades diferentes não podemos tratar de forma igual.

Acho que o caso real mais próximo que conheço é o de um rapaz que entrou para o nosso grupo de caminheiros há um ano e pouco e que tem dificuldades de locomoção. Toda a gente sabe que os escuteiros são rapazinhos/rapariguinhas que têm por hábito andar muito a pé. Ora, este novo elemento não tem facilidade nenhuma nisso, e para ser integrado foram necessárias duas coisas: a primeira dar-lhe um tratamento especial para que ele possa acompanhar o grupo nas caminhadas, a segunda o grupo adaptar a sua vida e as suas caminhadas de modo a tornar possível a sua participação. Deveria o grupo tê-lo tratado de forma igual? Rapidamente ele não só não se integrava como teria que desaparecer do mapa por não ter hipótese de acompanhar os outros!

É claro que alguns poderão pensar: os escuteiros não são apropriados para esse rapaz... mas quem pensar isto é só porque não sabe que há mais no escutismo do que andar a pé...
E já agora juntando estes dois temas (escuteiros e deficientes) cito o fundador do escutismo: "Graças ao escutismo há inúmeros rapazes aleijados, surdos-mudos e cegos que adquirem agora mais saúde, felicidade e esperança do que jamais tiveram. Na sua maioria são incapazes de fazer todas as provas normais do escuta, e são-lhes facultadas provas especiais ou de alternativa. A coisa mais admirável em tais rapazes é a sua boa disposição e o seu anseio de realizar no escutismo tanto quanto lhes seja possível fazer. De provas e tratamentos especiais não desejam mais do que o absolutamente necessário. O escutismo auxilia-os associando-os a uma fraternidade à escala mundial, dando-lhes alguma coisa a fazer e a esperar, e facultando-lhes a ocasião de provarem a si mesmos, e aos outros, que são capazes de fazer coisas - e até coisas difíceis - só por si." (Baden Powell, Aids to Scouts Mastership, 1944)

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Esquerda ou Direita?


Nunca tinha pensado nisto desta forma mas duas coisas que li ultimamente fizeram-me ver que realmente tem algum sentido. A questão é: porque é que os partidos hão-de ser de esquerda ou direita? Que eu saiba não existe nenhum partido que se identifique como neutro. Nem tão pouco existe algum partido que lá dentro tenha variedade de pessoas que se identifiquem com as diversas ideologias existentes.
Ora, o que me ocorre é: se os partidos pretendem assumir posição para governar a sociedade e se a sociedade é ideologicamente plural, não devia cada partido em si ser também plural? Que estabildiade ou equilibrio pode haver quando se trabalha no sentido de orientar uma sociedade plural usando uma ideologia específica? Bem sei que a ideia da representatividade nas assembleias é exactamente combater este problema, mas também é certo que não dá resultado porque acaba por haver sempre um domínio de um dos lados. E este domínio vai alternando e a sociedade vai andando aos Ss.
Não posso garantir que funcionaria, mas posso perguntar-me se não seria melhor os partidos serem mistos e identificarem-se não pelas ideologias mas por objectivos e vontades concretas. É que acabamos por concluir que as ideologias não reflectem grande coisa que interesse ao governo concreto.

Voltando às coisas que li. Uma delas foi o FAQ do partido MMS que está a tentar nascer onde dizem: "Para o MMS esses são conceitos que já não se aplicam a uma sociedade contemporânea; estão ultrapassados. O MMS não se revê nessa lateralidade. Essa fragmentação não é saudável ao desenvolvimento social e económico de Portugal.A gestão da convivência dos diversos interesses que uma sociedade abarca, constitui hoje um dos principais desafios à governação moderna. A lateralidade introduz desequilíbrios. " Fico na expectativa da veracidade desta resposta.
A outra foi um agradável artigo no Jornal de Negócios intitulado 'Politica ou Gestão', onde, entre outras coisas interessantes o autor diz: "A origem dos partidos políticos é muito nobre. É a forma escolhida para a representação proporcional da diversidade das correntes ideológicas originadas na interpretação do que deveria ser a melhor organização da sociedade. No entanto, a forma fechada como os partidos defendem a sua corrente ideológica e o desafio constante, fomentado no seu seio, à sua hegemonia e luta pelo poder fazem com que a defesa dos seus princípios crie mais divisão e guerra do que produção de conhecimento, experiência e criação de valor para o progresso das sociedades."

quarta-feira, novembro 28, 2007

Para quê complicar?




Não pude deixar de notar e ficar satisfeito...


O meu chefe estava ao final da tarde, quando eu estava de saída, a dar-me indicações para o dia seguinte.

Estáva-mos com um processo crítico em mãos que já devia estar acabado e teria de ficar no dia seguinte. Ele estava a encarregar-me de resolver a questão e disse: "Epá, eu tive aí um problema e não vou poder vir..." mas logo refez "Oh, não tive problema nenhum, já tenho uma coisa marcada há muito tempo".


Terminámos a conversa e aquilo ficou-me a ressoar na cabeça...

Em duas frases seguidas observei como é fácil mentir sem haver necessidade nenhuma e ao mesmo tempo como não custa nada dizer simplesmente o que é mesmo.


E pergunto-me porque é tão forte a tendência para adulterar sempre mais do que o necessário. Vezes demais acabamos por complicar coisas simples que a verdade simplificaria ou pelo menos não complicaria necessariamente. Mas o enrolar parece sempre uma opção mais segura, menos compremetedora. E às tantas já nem reparamos que só nos compremetemos mais com o vício de acumular desculpas em cima de desculpas.

E ser verdadeiro é sempre tão libertador...


Tenho a certeza que o meu chefe não perdeu nada por ser sincero, com a certeza de que assim não tem motivo para ficar a pensar no que disse.

E eu fiquei contente por ele o fazer, e satisfeito por realizar que é possível viver num ambiente de honestidade!

quarta-feira, abril 11, 2007

Reconhecer o que é tão real


"Enquanto conversavam e discutiam, aproximou-se deles o próprio Jesus e pôs-se com eles a caminho; os seus olhos, porém, estavam impedidos de o reconhecer."


Como é presente esta passagem!

Cristo já ressuscitou e no entanto não o consigo reconhecer. Ele caminha a meu lado, está presente em todos os momentos, no trabalho, nas obrigações, nos passatempos... e no entanto, chego ao fim do dia e não sou capaz de perceber onde é que Ele esteve ou como.~

Este é o drama, para mim, da Páscoa. É que no fundo passo a vida quase tão desanimado como aqueles discipulos iam, só por não perceberem a presença mais próxima do que nunca de Jesus.

Um momento para desanimar ou para confiar mais?

A confiança na ressurreição é essa certeza que Jesus está presente em cada cenário do dia-a-dia: com os amigos, na rua, nas dificuldades, nos momentos mais animados. Isto porque ele não está propriamente nas coisas nem nos sitios mas está em mim, ou comigo. Basta o simples facto de eu estar para Ele estar.

Como reconhecê-lo? Estando muito atento e percebendo nas entrelinhas que tudo o que se diz pode de alguma forma ser um sinal real da sua presença.

E esperar que os olhos se vão abrindo aos poucos e o comecem a ver mesmo ali lado a lado.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

O que cada um quer...

Na sequência de uma intervenção final no Prós e Contras de ontem, e não tendo eu escrito quase nada sobre o aborto neste blog porque acho que já se diz tanta coisa que farta, queria apenas realçar um aspecto sintético que eu acho bastante pertinente na situação concreta deste referendo.

Em algumas ocasiões, especialmente em debates, ouve-se uma ou outra vez, principalmente do lado do não dizer que no fundo todos queremos o mesmo, tanto o sim como o não (tentando dizer isto por ninguém ser a favor do aborto nem contra a mulher).

Eu não concordo nada com isto e acho que a conclusão que ouvi ontem sintetiza muito bem a fronteira entre o sim e o não neste referendo.

"O sim pretende reduzir o aborto clandestino, o não pretende mais do que isso, pretende reduzir o aborto sobre qualquer forma".

É isto, é uma questão de horizonte, essencialmente, que distingue as boas pessoas dos dois lados. Uns preocupam-se com as mulheres e com os problemas que decorrem de o aborto ser ilegal. Os outros preocupam-se com isto mas não pretendem resolver isto da forma mais fácil, comprometendo para isso a vida do filho. Querem que não haja aborto ilegal, não por este ser legalizado mas por este ser evitado.

É isto que se decide, e é por isto que custa tanto dar um não. Não custa pela hipocrisia mas custa pelo compromisso de meta que o não implica.